Véspera do carnaval, viagem planejada ou descanso por aqui mesmo. Pra quem fica, os cinemas de Vila Velha e Vitória (lê-se Shopping) vão fazer promoção nesta segunda, terça e quarta, com ingressos a R$8 (inteira) e R$4 (meia). Uma opção pra quem não consegue viver só de praia, mas aceita assistir a filmes como Cristina Quer Casar, Navio Fantasma e Xuxa e os Duendes.
No mais, outra matéria que saiu no
Omelete, para os fãs de HQ's. Resta saber se vai chegar às salas de Vitória.
Arca Russa
Por Marcelo Hessel
O filme Arca russa (Russki Kovtcheg, 2002), de Aleksandr Sokurov, pode ser comparado com O reino do amanhã, a HQ escrita por Mark Waid e pintada por Alex Ross. Calma, a obra não deixa de ser um "filme-de-arte", complexo e anticomercial. Também não se trata de um filme de super-heróis. Mas, da maneira como é apresentada, a produção tem algumas analogias com o gibi.
Como um Norman McCay, pastor nomeado juiz, jogado em um futuro tenebroso do gibi, o misterioso personagem vivido por Sergei Dreiden, um certo Marquês, surge no passado, em meio ao Museu Hermitage de São Petersburgo, antiga Leningrado. Enquanto na HQ McCay e seu guia, o Espectro, observam sem serem notados, em Arca russa a câmera acompanha e conversa com o Marquês pelos corredores do palacete, sede dos eventos mais significativos da História do Império Russo, também sem qualquer interferência na realidade.
Se a missão do pastor representa o futuro da relação humanos-heróis, a trajetória no filme espelha um passeio historiográfico por três séculos, desde Pedro, O Grande, passando por Catarina II, pela última ceia dos Romanov, até os dias de hoje, quando apenas obras do Renascimento italiano estão em exposição.
No fundo, há uma crítica ao declínio da cultura russa, mas o enredo se resume a isto. Como um Alex Ross perfeccionista, Sokurov visita cada detalhe de um dos palacetes mais espantosos da Europa, com 35 salas majestosas e arquitetura monumental. Dá vontade de viajar imediatamente a São Petersburgo e pedir para a guia do museu refazer o mesmo caminho de maravilhas.
Mas seria apenas um filme interessante, se não fosse uma peculiaridade. O diretor filma com uma câmera digital de alta resolução em um
único plano-sequência. Ou seja, durante 97 minutos, não há cortes. E existem três mil figurantes e outros milhares de figurinos, representantes das épocas distintas. Foram quinze anos de idealização, sete de preparação e um dia de filmagens, 23 de dezembro de 2001. É simplesmente espantoso.
Para aqueles que conhecem a fundo a cultura do país, Arca russa é um filme obrigatório e emocionante. E para quem não conhece, basta contemplar um trabalho de altíssimo rigor estético e de beleza única. E que se tornará um paradigma técnico, como já é O reino do amanhã.
E para aqueles que já beiram os 30 e assistiram (como eu) ao desenho Caverna do Dragão - todos os episódios, e se sentiram abandonados quando a série foi tirada do ar, sem um final,
aqui você encontra um texto escrito pelo roteirista do desenho, Michael Reave, explicando um pouco do frenesi que esse desenho causou na época em que foi lançado. Ele conta também que houve, sim, um roteiro de encerramento da série, mas que não chegou a ser produzido, e
desmente os boatos que surgiram, até mesmo na internet, sobre um suposto final onde os meninos descobrem que na verdade eles estão mortos, e não em um mundo alternativo.
Além disso, o roteiro está disponível pra leitura
aqui. Entrevista e roteiro em inglês.