Anos 90 - O que eles produziram de bom...
Lá estava eu fuçando meus discos e me deparei com um impasse cruel: mais de 300 discos e eu reclamava que não tinha nada para ouvir. Quem é um doente por música (a maioria aqui, imagino) sabe do que estou falando. É como se fosse uma droga, cujo vício nunca acaba - você sempre quer mais e mais, e mais...Pois nesta dúvida existencial a que me encontrava, eu comecei a reparar nos discos que realmente são indispensáveis (quase todos!). Mas eu tinha que selecionar aqueles cuja sonoridade têm tudo para adqüirir o status de
clássico. Mesmo que algumas bandas não tenham produzido nada que prestasse antes ou depois, o que importa aqui é o disco em questão. Aquele que você escuta e exclama: "caralho!". Vou listar alguns pequenos clássicos dos anos 90 que, ao contrário do que se faz hoje, eu tenho o disco
real nas mãos, e não o mp3. Sem tradicionalismos baratos - na falta de grana é muito mais lucro pagar 110 paus num Velox por mês (e baixar quantos discos puder), do que gastar esta mesma grana com não mais do que três discos - nacionais!!! E estes discos não fizeram parte de nenhuma lista oficial dos melhores dos anos 90 que li por aí. Vamos lá:
Butthole Surfers - "Independent Worm Saloon"
Imagine o rock and roll praticado no
Planeta Bizzarro (aquele inverso da Terra, que tem um SuperMan quadrado, e por aí vai...). Jogue alguns psicotrópicos na água que abastece a população, o Palhaço Krusty é o presidente, e os vermes que habitam seu estômago possuem vida própria - com direito a uma nação à parte. Sim, viajei na maionese. Mas os caras do Butthole Surfers não são deste planeta. Seu som não possui definição correta. Ouça a introdução de "Who was in my room last night?", com vozes chapadas gritando "i'm flyng", e depois o rockão rasgado em que a música se transforma. Logo depois vem uma faixa ("The Wooden song") que parece um REM jogado num hospício. Não é música propositalmente
louca, muito menos trata-se de um som
difícil, daqueles horrorosos que os indies adoram dizer que gostam. No decorrer do disco você estará cantando junto com os caras, mesmo que o vocal em certos momentos possua um distorção escrota (daquelas que afinam a voz, típica de funks cariocas mais antigos). E é bom salientar: é rock and roll, acima de tudo! A produção de Jonh Paul Jones (do Led Zeppelin - acreditem!) deixou-os mais audíveis e pesados ao mesmo tempo. É som de quem tem uns parafusos a menos e outros tantos a mais. Mas não os chame de
geniais: os caras da banda se cagariam de rir disso.
*A banda produziu, sim, mais discos que prestassem. E olha que são muitos, visto que o primeiro é de 1981! Só não ouçam o "Locust Abortion Technician"! Aquilo ali não é música! Eu joguei o disco no mar (de Camburi!) depois de tê-lo ouvido mais de dez vezes na esperança de não sentir nada menos pior do que náuseas.
Body Count - "Body Count"
"Body Count is in the house!". Ô época boa que foi essa! Entre 1991 e 1993 o heavy metal havia sido desmembrado. Bandas fenomenais como
Helmet,
Prong e
Kyuss praticavam um som que desafiava as "raízes" do estilo (e ainda tem muito metaleiro de merda que acha que o metal surgiu nos anos 80...Dá-lhe Sabbath na cabeça destes idiotas!). A lista de sons maravilhosos que surgiram (e acabaram tão logo depois) é extensa. Pois resolvi pinçar uma banda
preta mesmo. Não havia algo mais infame no mundinho metal do que uma banda formada por negros praticando um som fodão. E o Body Count chegou quebrando tudo, mandando a polícia pras picas e acrescentando suingue e tosqueira no já corrompido heavy metal da época.
Ice-T, o chefão desta porra toda, aplicara um golpe de mestre. Aproveitou-se de um mercado de pernas abertas, colocou os brancos no bolso (todos de uma hora para outra compraram o som do BC para tirar onda de fodões), e ainda por cima pôde sentar a ripa em tudo e todos, com o suporte de uma
major! Tirando todo o bafafá em torno das polêmicas geradas (há quem o culpe pela guerra civil que aconteceu em Los Angeles na época), o que interessa no final das contas é o
som! Thrash metal, punk rock, Hendrix, refrões poderosos - não vou aqui citar faixa alguma, pois julgo todas fenomenais. Mesmo sem "Cop Killer" (a tal faixa que conclamava à matança dos policiais - um punk rock arrasador), o álbum vale cada centavo investido.
*gosto muito dos álbuns subseqüentes. Mas este aqui é disparado o melhor - e o único com relevância histórica.
Consolidated - "Friendly Fascism"
Hip-hop com
electro/industrial??? Confesso que na primeira vez que li algo sobre esta banda eu fiquei desconfiado. Dois estilos absolutamente desconjuntados entre si: o hip-hop como a grande manifestação da música negra nos anos 90, e o industrial/EBM representando exatamente o contrário disso, com seus ritmos mecânicos e frios. Pois eu encomendei na Tarkus (bons tempos do dólar a 1 real...) imediatamente o tal disco. Fiquei decepcionado à primeira audição: não havia tanto industrial quanto eu gostaria (na época só ouvia este tipo de som), e acabei deixando-o de lado por uns três anos. Até que um dia (como o descrito no começo do texto) eu resolvi reouvir alguns discos que estavam encalhados no fundo de minha estante. Pois uma grata supresa se revelara! O Consolidated, melhor explicando, pratica um excelente crossover de hip-hop balançadão e agressivo (estilo Public Enemy), com muito groove, samplers a mil (muitas informações embutidas neles), e um inédito cuidado com batidas e instrumentos utilizados. É aí que mora a tal influência de industrial: vocais distorcidos, sintetizadores pesados, algumas guitarras ocasionais - uma definição arriscada seria a de uma improvável fusão entre Public Enemy e Ministry. A digestão é meio difícil no começo, mas quando o ritmo invade seu cérebro, você vai estar diante de uma obra ainda sem paralelos nos dias atuais.
*já ouvi seus outros discos - pouca coisa, na verdade. São muito difíceis de achar. Mas me pareceu que os caras foram fundo em suas experiências sonoras.
Esta lista estará sempre crescendo. Em breve colocarei outros álbuns aqui no blogg. E quero ver quais discos que vocês julgam ser importantes para o período em questão - os anos 90, e que não fizeram parte de qualquer lista publicada na mídia em geral.