Radio Rock???
O termo rádio rock nunca foi tão mal utilizado como atualmente. Aliás, atualmente é um termo errôneo. Há mais de cinco anos que eu não escuto música decente no rádio. Parei de ouvir este meio de comunicação a partir do momento em que Guarapari FM - Maldita 94,9 FM saiu do ar. Desde então, desisti de ouvir algo que prestasse, mesmo em programas específicos. Portanto, é um crime uma rádio horrorosa como é a Cidade se auto-proclamar rádio rock. Que tipo de "rock" que esta porra toca??? Só se for "roque", um outro termo que não seja o tal do rock and roll. É bem verdade que eu só ouço rádio se for no carro/casa dos outros. Nem sei mais qual é a sintonia das rádios locais. A última vez que ouvi a tal rádio rock foi de manhã, indo para a praia, há duas semanas atrás. Até às 10 horas rolaram alguns sons surpreendentes para o cético aqui, tipo AC/DC, Led Zeppelin e Stones. Logicamente eram só chavões: "Back In Black", "Stairway To Heaven" (cortada...) e "Satisfaction" - mais manjadas impossível. Depois das dez, imagino, o horário comercial deve ser bem mais caro. Portanto, tome Avril Lavigne, Creed, LS Jack, Símios, Macucos, Britney Spears..."rock" para quem não curte rock, pop para quem não curte nada - só consome sem pensar.
Mas eu estou longe de manifestar purismos ou saudosismos desnecessários. Tenho a plena noção de que uma rádio movida a sons alternativos ou lados B de clássicos do rock não sobreviveria no mercado disputadíssimo dos dials. A boa música estaria relegada às rádios comunitárias, com já acontece nas grandes capítais do país (imagine de onde os Racionais venderam mais de 1 milhão de discos sem a divulgação convencional dos jabás de rádios...). Porém, a culpa não é só do mercado. O público consumidor vem se tornando cada vez mais passivo. As pessoas não estão interessadas na história do artista, se ele imita descaradamente alguém, se o que estão ouvindo é muito ruim musicalmente. Eu me lembro que há dez, doze anos atrás haviam programas de rádio específicos de um determinado estilo musical como Noise (metal) e 120 Minutos (música eletrônica). Nestes programas os locutores invariavelmente sabiam do que falavam, contavam histórias das bandas que eram tocadas, lançavam novos sons, sorteavam até fitas mixadas (no caso dos programas de música eletrônica) ou de coletâneas (no caso dos programas de metal). Acima de tudo, naquela época passava-se informação! Hoje o público simplesmente não quer se informar. Quem não se contenta com a passividade migrou para a internet. Quem não pode ter acesso à web, não ouve rádio mas dá um jeito de gravar (fitas ou CDs) om amigos, ler revistas e fanzines. O rock sempre foi um produto comercial, sempre vendeu bem por representar desafio, questionamento e diferenciação. Hoje o que vemos/ouvimos na mídia de massa é um reflexo sombrio dos tempos em que vivemos. O que é bom não toca na rádio, não passa na TV. O ruim e o descartável comandam 100% da programação das rádios. Se um Red Hot, um Strokes ou um Hives (bandas que possuem, no mínimo, a decência de se diferenciarem do lixo, na minha concepção), é porque houve um hype comandado pela MTV ou coisa parecida. Se for realmente bom, a moda passa, mas a banda fica. Bem, na verdade eu só ouvi Red Hot tocando nas rádios...
A finada Maldita (a capixaba) dá saudades sim! Conheci alguns clássicos do rock, dos quais tinha preconceito só por serem "velhos" (na época eu só ouvia o que era "novo"...), através de idas e voltas para Guarapari ouvindo a "Madrugada Maldita". Sabbath, Hendrix, ZZ Top, Pink Floyd, The Doors, Free...estes sons me conquistaram a alma na estrada, indo e voltado de rocks igualmente memoráveis. Ainda tinha o "Fly By Night", que mesclava clássicos com atualidades no nobre horário de 10:00 h à meia-noite. Ouvia Sabbath seguido de Helmet, Body Count, Midnight Oil (músicas não-óbvias que não fossem "Dead Heart"), os emergentes Offspring e Green Day (quando surgiram eu cheguei a gostar!), os influentes Bad Religion, Ramones e Social DIstortion, e até mesmo pesos-pesados como Ministry (já ouvi NWO na hora do almoço, fora a vinheta da rádio que ussava esta música!). Eu ficava com uma fita no pause do play/rec pronto para ser acionado! Com a programação atual, eu ficaria era com a mão preparada no gatilho de uma arma para atirar no som...Pois a Maldita caiu no mesmo erro de sua matriz no Rio de Janeiro. Segundo consta, a Rádio Fluminense naufragou por sucessivos erros e amadorismos quanto à proramação e ao setor publicitário. Extendendo para o lado capixaba, a Maldita seguir à risca a postura de sua matriz carioca até mesmo nos seus erros. Reggaes frouxos e músicas mais pop começaram a predominar. A rádio achava que assim poderia ampliar seu público? Sinceramente, quem ouvia a Guarapari FM foi mudando de sintonia aos poucos ou simplesmente deixou de ouvir rádio (meu caso). Spots publicitários ridículos, que pareciam ter sido produzidos por surfistas com o cérebro lotado de THC, espantavam empresas sérias que poderiam investir na rádio. O resultado final não poderia ser pior: virou rádio evangélica (no Rio acho que foi ainda pior, pois cedeu espaço à Jovem Pan).
E a questão se volta à auto-proclamada rádio rock. É incrível como as pessoas ligam para a rádio para pedir uma música que acabaram de ouvir umas 500 vezes. Até mesmo os programas específicos são obrigados a tocar a mesma merda de sempre. Um amigo meu é um dos produtores do programa "Beco do Reggae" (de que rádio é? não sei, não ouço rádio...). Ele me falou que tenta tocar uns dubs e raggas, uns sons mais obscuros de Bob Marley e Peter Tosh, mas o público reage mal. Não quer saber que o reggae abrange um universo muito maior que o de Macucos, Edson Gomes e Rastaclone. Ele falou que já ligou uma menina reclamando do som que estava rolando e pedindo Bob Marley, sendo que o que tocava era o próprio Bob Marley! Não gosto de reggae (só de dub) mas foi interessante saber que isto rola até mesmo no estilo musical mais difundido aqui no Estado atualmente. O público é burro e se conforma como tal sem saber disso. E a tal Rádio Cidade só toca rock de mentirinha. É uma contradição você chegar nas instalações desta rádio e ver pôsteres de bandas como Rage Against The Machine, Nine Inch Nails, Black Sabbath e até Social Distortion, mas não toca nada delas! É só marketing! De "egüinha pocotó" para Avril Lavigne não há diferença nenhuma no nível de enganação (se bem que numa sessão de tortura eu prefiro sintonizar numa rádio que estivesse tocando a Lavigne...). Ouvir a palavra "rock" sendo pronunciada por aqueles locutores irritantes chega a ser um insulto. Quer ouvir uma rádio que presta? Faça você mesmo! E não espere ganhar dinheiro com isso...